Repatriação
reduziu desigualdade tributária em 2016
- 30/12/2017 16h06
- Brasília
Wellton
Máximo - Repórter da Agência Brasil
Cobrança
de Imposto de Renda sobre o patrimônio legalmente mantido por brasileiros no
exterior reduziu a desigualdade na arrecadação nacional no ano passado(Arquivo/Agência
Brasil)
O programa de regularização de ativos no exterior,
também conhecido como repatriação, teve um efeito temporário sobre um dos
principais problemas da tributação brasileira. A cobrança de Imposto de Renda
(IR) sobre o patrimônio legalmente mantido por brasileiros no exterior reduziu
a desigualdade na arrecadação nacional no ano passado, segundo o relatório da
carga tributária de 2016 divulgada nesta semana pela Receita Federal.
Um sistema tributário regressivo aumenta a
desigualdade porque onera os mais pobres e preserva os mais ricos. Isso ocorre
quando a tributação incide mais sobre o consumo do que sobre a renda e o
patrimônio. Quando uma mercadoria que custa R$ 5 paga 20% de imposto (R$ 1),
essa quantia proporcionalmente pesa mais sobre quem ganha menos porque quem
recebe mais pagará o mesmo valor ao governo.
De acordo com os dados oficiais do Fisco da carga
tributária de 2016, a tributação sobre bens e serviços, ligada ao consumo, caiu
de 15,85% em 2015 para 15,35% do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas
produzidas no país) no ano passado. Em contrapartida, a tributação sobre a
renda subiu de 5,88% para 6,47% na mesma comparação.
A tributação sobre a renda é considerada
progressiva porque proporcionalmente onera os mais ricos e promove a igualdade.
De acordo com o próprio levantamento da Receita, a alta pode ser atribuída
quase totalmente à repatriação. “A categoria Renda [incidência da tributação
sobre a renda] foi influenciada, principalmente, pelo RERCT [Regime Especial de
Regularização Cambial e Tributária] e pela arrecadação extraordinária de
transferência de ativos entre empresas”, destacou o relatório do Fisco.
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A primeira etapa da repatriação, de abril a outubro
de 2016, arrecadou R$ 46,8 bilhões em Imposto de Renda e em multas. Na ocasião,
os contribuintes pagaram 15% de Imposto de Renda (IR) e 15% de multa em troca
da anistia do crime de evasão de divisas. A influência dos tributos
progressivos não se repetirá na carga tributária de 2017 porque a segunda fase
da repatriação, que cobrou 15% de IR e 20,25% de multa, teve baixa adesão e
arrecadou R$ 1,61 bilhão, bem abaixo da expectativa inicial de R$ 13 bilhões. A
Receita só divulgará os dados de 2017 no segundo semestre de 2018.
Comparação internacional
A carga tributária representa o peso dos tributos
sobre a economia. Em 2016, 32,38% de tudo o que o país produziu foi pago ao
governo, contra 32,11% do PIB registrados em 2015. Sem a repatriação, no
entanto, o indicador teria caído para 32,01% do PIB. O aumento da arrecadação
de Imposto de Renda teria efeito apenas marginal na redução da desigualdade
tributária em relação a outros países.
O relatório de 2016 apresentou um comparativo da
carga tributária por segmento de tributação entre o Brasil e países da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), grupo dos
países mais industrializados ao qual o governo brasileiro está em negociações para ingressar.
Por causa das defasagens na divulgação de outros países, a comparação é feita
com os dados de 2015.
Há dois anos, o Brasil fazia parte do grupo das
menores cargas tributárias, em 11º lugar, num total de 34 países. No entanto,
ao analisar a estrutura da arrecadação, o país era o que menos arrecadava com a
renda (5,88% do PIB). Ao comparar os dados do Brasil de 2016 (6,47%) com a
arrecadação de 2015 dos demais países, o país teria subido para a penúltima
posição na tributação da renda, à frente apenas da Turquia. Na Dinamarca, que
lidera o ranking da igualdade tributária, os tributos sobre a renda equivaleram
a 29,2% do PIB.
Em relação ao consumo, no entanto, o Brasil era o
segundo país que mais arrecadava com a tributação sobre bens e serviços em 2015
(15,85% do PIB), perdendo apenas para a Hungria, com 17,2%. Ao incluir os dados
de 2016 (15,35%), mantendo a arrecadação de 2015 dos países da OCDE, o Brasil
seria ultrapassado pela Grécia e cairia para a terceira posição. O país que
onerava menos o consumo eram os Estados Unidos (4,4% do PIB).
Edição: Fernando
Fraga
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